quinta-feira, 27 de junho de 2013

Adeus Édouard Glissant, lutador antirracista e anticolonialista








O escritor caribenho Édouard Glissant ―um dos símbolos da cultura caribenha e criolla, escritor imprescindível para o pensamento e as letras americanas, morreu em Paris em 3 de fevereiro; ele tinha 82 anos de idade. Nascido na Martinica, Caribe francês, ele desenvolveu a teoria da “criollização” e em seus romances, poemas e ensaios abordou os temas da escravidão, racismo e colonialismo, questionando a identidade pós-colonial.

Foi autor de uma vasta obra poética e narrativa onde é notável seu interesse pela identidade antilhana, a condição pós colonial, a relação entre o espaço Caribe e sua história, as questões da linguagem, dos nexos entre o escravismo caribenho e o da América Latina, entre outros importantes temas. É sem dúvida um dos representantes vivos que simboliza uma geração de escritores caribenhos que repensaram o Caribe desde sua riqueza e diversidade cultural. 

Formado em etnologia pelo Museu do Homem de Paris e em Filosofia pela Universidade da Sorbonne, foi um defensor da solidariedade entre os povos e do respeito à diversidade. Participou dos círculos e fóruns literários e artístico do movimento negro de emancipação e, na década de 1950, participou dos movimentos de protesto da esquerda francesa. 

Suas reflexões apontaram como “o Caribe é uma realidade cultural” aberta “sempre a outras culturas”, reforçando a ideia de que “um negro Cuba, um branco de Guadalupe e um índio do Haiti participam da mesma identidade”, como escreveu o próprio Glissant. Esse espírito o levou a engendrar uma obra artística a cavaleiro entre o poético e o político, em que as imagens metafóricas e as lendas convivem com as reflexões teóricas. 

Ativo militante anticolonialista, ele apoiou a guerra pela independência da Argélia. Companheiro de Frantz Fanon, cujas ideias partilhou, em 1959 Glissant fundou, com com Paul Niger, a frente antilhana-guianense pela independência e por isso foi das Antilhas francesas e exilado na França metropolitana entre 1959 e 1965, ficou durante muito tempo em prisão domiciliar. 

Em 1958 seu romance La Lézarde recebeu o premio Renaudot, dando reconhecimento internacional a este intelectual revolucionário. Seu trabalho abriu o caminho para que outros escritores criollos desenvolvessem seus trabalhos, como Patrick Chamoiseau, vencedor do premio Goncourt em 1992. 

Ele voltou à Martinica em meados dos sessenta, e lá fundou o Instituto Martinicano de Estudos e a revista Acoma. Foi diretor da revista Correio da Unesco entre 1982 e 1988, do Centro de Estudos Franceses e Francófonos da Universidade da Luisiana e desde 1995 foi professor da Universidade da Cidade de Nova York ele foi uma das grandes vozes da literatura francesa criollizada.

O texto que apresentamos abaixo, retirado do livro Le discours antillais (O discurso antilhano, de 1981) dá uma amostra de sua visão política de um mundo baseado na diversidade dos povos e das culturas.

Deixou uma extensa bibliografia onde se destacam títulos como: Un champ d’îles, Les Indes, La Terre inquiete (1955), La Lézarde (1958, Prêmio Renaudot), Le sel noir (1960), Monsieur Toussaint (1961), Le Quatrième Siècle (1964), Le discours antillais (1981), La case du commandeur (1981), Poétique de la Relation (1990), Tout-Monde(1993), Traité du Tout-Monde (1997), Mahagony (1997), Malemort (1997), Sartorius... (1999), Le monde incréé (2000), Pays rêvé, pays reel (2000), Ormérod (2003), La cohée du lamentin (2004), Une Nouvelle région du monde. Esthétique 1, (2006).


Da Redação, com informações de La Ventana

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