sexta-feira, 28 de junho de 2013

Afetos e arquivos da Escravidão.




Afetos e arquivos da Escravidão


Eurídice Figueiredo


Ce qui rend la mémoire de l’esclavage si pleine et 
obsédante [...] c’est qu’elle n’existe pas. Comme on 
n’en sait rien, on en sait tout. Et tout semble avoir 
été dit car rien n’a été dit. Aller avec l’écriture dans 
cette mort de l’esclavage c’est y aller avec la vie, 
car toute écriture est d’abord vie. Mais il apparaît 
difficile au regard de la vie d’explorer de manière 
juste et exacte [...] le secret absolu de cette mort.
Patrick Chamoiseau*


Memória e arquivo


Patrick Chamoiseau (nascido na Martinica em 1953) empreende um trabalho de reescrita dos afetos e arquivos da escravidão no romance Un dimanche au cachot, dando continuidade a uma temática que já aparecia em obras precedentes como L’esclave vieil homme et le molosse (Paris: Gallimard, 1997) e de maneira mais parcial em Texaco (Paris: Gallimard, 1992) e Biblique des derniers gestes (2002). 

Na Martinica, antes de Chamoiseau, escritores como Aimé Césaire e, sobretudo, Edouard Glissant prospectaram o terreno da escravidão. Esta questão histórica é crucial porque, como afirma Glissant, não há propriamente mitos cosmogônicos que os exprimam; se existe uma origem para os antilhanos, esta estaria no ventre do navio negreiro. Glissant considera que, como a história foi rasurada, o escritor deve escavar a memória em busca de vestígios; como o tempo foi estabilizado numa não-história imposta, o escritor deve contribuir para restabelecer uma cronologia atormentada. Assim, ele conclui que a história enquanto consciência atuante e a história enquanto vivido não são assunto só para os historiadores.*Re-contar literariamente esta história sobredeterminada pela escravidão é criar ficções que deem conta de um certo ambiente, forçosamente imaginário, através da utilização de diferentes formas de arquivos a fim de reconstituir a memória cultural do país.

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