quarta-feira, 26 de junho de 2013

O CARÁTER DA LITERATURA DE GLISSANT




A Literatura de Glissant mostra questões de ponta, consigna aspectos da atualidade, da contemporaneidade, se atenta ao contexto histórico, cultural e literário, fazendo relação entre textos, autores, expressões e etc. Os intercâmbios usados evidenciam que não se estuda literatura por ela só, mas faz-se perpassando outras áreas, como, por exemplo, a filosofia. Sua natureza do comparatismo ressalta a influência de uma literatura sobre a outra, demarca a importância da noção de conceitos como intertextualidade e interdisciplinaridade, prima a verdadeira avaliação (confrontos, discussões e qualificações) do que é produzido no país revelando a capacidade existente na Literatura de transcender ambientes. 


A Literatura Glissantiana, converte-se em material que põe em relação diferentes campos das Ciências Humanas. O que antes a definia em restrição de campos e modos de atuações, passa a atuar em várias áreas, apropriando de diversos métodos, assumindo, desta maneira, uma mobilidade na atuação comparativista, uma natureza mediadora, um elemento crítico que se move entre dois ou vários elementos, fixando um caráter interdisciplinar, como afirma Tânia Carvalhal (1991, p. 10).

Vista a questão de outro ângulo, o de sua definição, é ainda numa perspectiva histórica que se poderia dizer que se antes a especificidade da Literatura Comparada era assegurada por uma restrição de campos e modos de atuação, hoje, essa mesma especificidade é lograda pela atribuição à disciplina da possibilidade de atuar entre várias áreas, apropriando-se de diversos métodos, próprios aos objetos que ela coloca em relação.



Nas primeiras manifestações de que a Literatura Negra não é apenas mais um instrumento de trabalho, mas um recurso que coloca em relação uma forma nova de contar a história, de resgatar um espaço, ao ver pelo contraste, numa comparação que não se trata de justapor ou sobrepor, mas sim de investigar, indagar e formular questões. Ao constatar através do criolo que a diversidade linguística já não serve de base à comparação, começa-se a falar em diversidade de linguagens e formas de expressão.


As vicissitudes mostram que a pluralidade racial e étnica proliferam a “ordem” das cidades, e evidenciam que o espírito colonizador ainda não desapareceu por completo dos espaços.


Quando Glissant propõe repensar a alteridade (interação, interdependência) conduz à reflexões quanto as questões identitárias, a exemplo as associações de categorias: universal e particular, razão e instinto. A noção de identidade cultural estaria em anuência com transformações sócio-políticas, intercalando como participação ou como efeito dessas mudanças.


As obras de Glissant são conceituadas como literatura menor, mas a partir da imagem de uma literatura menor como pertencente a uma língua menor que reformula a língua que uma minoria constrói numa língua maior. Esta língua utilizada por minorias muitas vezes é consequência de empecilhos, como impossibilidade de não escrever (uma consciência nacional que passa pela literatura), impossibilidade de escrever de outra maneira (à distância em relação à territorialidade) e a impossibilidade de escrever em (desterritorialização da própria população, enquanto minora opressiva que fala uma língua cortada das massas).


Segundo DELEUZE e GUATTARY, na literatura menor tudo é político, ela faz com que todas as questões individuais estejam ligadas à política por acreditar que a questão individual ampliada se torna indispensável e mais necessária, porque consegue agitar em seu interior outra história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário